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segunda-feira, maio 14, 2012

A Febre Amarela

É a Febre Amarela, doença que acomete os animais primatas em geral, portanto também o homem já que este é classificado no mesmo grupo zoológico dos macacos. É causada por um vírus do grupo dos Arbovirus, termo esse em Virologia originário da língua inglesa, que engloba todas as viroses transmitidas por artrópodes, ou seja em Inglês: arthropod born, significando ser transmitida através de artrópodes, como o são os mosquitos em geral; Nessa doença em particular, funciona como vetor (transmissor), o mosquito da espécie Aedes aegypti, que além da Febre Amarela pode também ser vetor para a doença denominada DENGUE.

MICROFOTOGRAFIAde um corte histológico , de setor de um lóbulo hepático humano com Febre
Amarela , mostrando a chamada lesão hoje denominada de Rocha Lima , em
homenagem a esse cientista Brasileiro que primeiro descreveu referida lesão
patognomônica da Febre Amarela .

Tal mosquito por ser sugador de sangue (hematófago), picando um doente com febre amarela também se contamina, e vindo a picar em seguida outra pessoa ou animal do grupo dos primatas (macacos em geral), transmite a este último o vírus da doença, dando assim prosseguimento a esse ciclo epidemiológico dessa grave virose. O mesmo ocorre também com a virose conhecida pelo nome de Dengue, no caso transmitida pelo mesmo mosquito vetor.

Essa sucessão de transmissões não sendo interrompida por medidas sanitárias, pode ter continuidade de forma permanente, constituindo então uma epidemia quando se tratar de populações humanas, ou uma epizootia em se tratando de população animal; Quando tanto animais quanto homens encontram-se contaminados pela doença, é denominada essa situação de uma antropo-epizootia. Acontecendo da doença se tornar continuada por longo lapso de tempo e numa terminada região, quando se tratar de população humana o termo utilizado é de uma endemia; quando apenas animais permanentemente infectados, uma enzootia, e quando tanto animais quanto pessoas estiverem simultaneamente contaminados, o termo adequado é uma antropoenzootia. É portanto essa doença: a Febre Amarela, uma zoonose, já que afeta além do homem também animais superiores do grupo dos macacos (primatas), sendo inclusive inter-transmissível a través do mosquito de macacos para o homem, ou vice versa.

Na Febre Amarela, sendo o homem (ou um macaco) picado por um mosquito contaminado pelo vírus, tal vírus se multiplica nos gânglios linfáticos satélites (os gânglios mais próximos da picada), ocorrendo então em seguida, o primeiro surto febril, que dura de 2 a 3 dias, e constitui o que é denominado de infeção propriamente dita, ou período de viremia (quando o vírus está se multiplicando no sangue circulante do hospedeiro infectado). Nesse período o diagnóstico é ainda difícil, devido os sintomas serem os comuns a qualquer infeção, tais como febre, tonturas, fortes dores pelo corpo, especialmente nas pernas e músculos lombares, vômitos alimentares biliosos e epistaxis (hemorragia pelo nariz). Ocorre em seguida arrefecimento da febre (queda transitória), vindo o doente a sentir grande sensação de alívio, porém logo em seguida a febre volta novamente e os sintomas agora são de uma intoxicação, caracterizando-se por icterícia (as mucosas aparentes como a conjuntiva e mesmo a pele apresentam-se amarelo-esverdeadas, devido sua impregnação pelo pigmento denominado bileverdina, que se originou da destruição dos glóbulos vermelhos do sangue, denominando-se tal icterícia do tipo hemolítica. Além desses sintomas, aparecem ainda: albuminúria (aumento da taxa de albumina na urina), hemorragias cutâneas e vômitos negros (hematemese).

A severidade dos sintomas acima descritos, assim como das lesões que se verificam nos diversos órgãos, dependem do tipo de vírus infectante, que não é de um único tipo, e estas lesões localizam-se predominantemente no fígado, rins, coração, medula do osso externo e gânglios linfáticos.

Foram já identificados dois tipos desse vírus: um causando a chamada forma Silvestre, e outro a forma denominada Urbana; Como tais nomes indicam, causam respectivamente a doença nas matas ou nas cidades. A primeira delas, a Silvestre, acomete principalmente macacos, e eventualmente o homem (garimpeiros, seringueiros, caçadores e pescadores principalmente), sendo que o homem infectado nesse caso, regressando às suas cidades de origem trazem a virose para o meio urbano, difundindo então a segunda forma da doença, a Urbana, porém tendo como causa o tipo de vírus Silvestre.

Na forma Silvestre foram já várias espécies de mosquitos identificados como vetores do mal, pertencentes ao gênero Aedes e também ao gênero Haemagogus, este último habitando como os saguis, as partes mais altas das árvores.

A missão francesa, que em 1903 quando da epidemia da doença no Rio de Janeiro, ali realizou trabalhos de pesquisa, constituida essa missão pelos cientistas Marchoux, Salimbeni e imond, estabeleceram que devem transcorrer pelo menos 12 dias para que o mosquito que picou um enfermo se torne infectante. Os pesquisadores Brasileiros: Baurepaire Rohan Aragão e Costa Lima, ambos do Instituto de Manguinhos do Rio de Janeiro, em 1930, concluíram que mosquitos vetores das espécies assinaladas, porém do sexo masculino e que normalmente não são sugadores de sangue, pois apenas as fêmeas o são, em condições especiais, tal como quando alimentados com mel misturado com sangue contaminado pelo vírus, não só se tornam infectantes como também capazes de transmitir o vírus a través da cópula com as fêmeas, e estas então tornarem-se também infectantes da doença. As fezes de mosquitos contaminados também se apresentam infectantes já após 5-7 dias.

Em 1881, Carlos J. Finlay, em Cuba, foi quem aventou a hipótese de ser a doença transmitida pelo mosquito, o que na época não era admitido, sendo então ridicularizado porisso; Tal hipótese ficou esquecida por 20 anos, e somente então, uma comissão do exército Norte Americano chefiada pelo major Walter Reed, que encontrava-se novamente em Havana, em Cuba, que sofria nova epidemia da doença, demonstrou de maneira irrefutável o acerto da teoria Finley; Reed mandou construir uma pequena casa telada (a prova de mosquitos), e dividiu-a em dois compartimentos; Num deles colocou voluntários dormindo em camas conspurcadas por vômitos e fezes de doentes de Febre Amarela; No outro compartimento da casa, instalou outro grupo de voluntários expostos apenas às picadas de mosquitos que haviam dias antes picado doentes de Febre Amarela . Resultado: Nenhum dos voluntários expostos apenas à excrementos de doentes vieram a se contaminar e apresentar a doença; Já o grupo de voluntários do segundo compartimento, expostos apenas às picadas de mosquitos contaminados, um após outro adoeceram do mal.

Experimento similar foi efetuado entre nós, em S. Paulo, no ano de 1903, por Adolfo Lutz e Emilio Ribas, na época no antigo Hospital de Isolamento, hospital esse que hoje leva o nome deste último pesquisador, e que tem ao seu lado o Instituto de Pesquisas que leva o nome do primeiro pesquisador.

Em conseqüência desses experimentos, surgiu na época dessas epidemias que assolou tanto S. Paulo quanto o Rio de Janeiro no início do século, a chamada Campanha de Combate A Febre Amarela, chefiada na época jovem médico sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz, que a comandava na antiga capital federal, sendo em S. Paulo os trabalhos chefiados por Emílio Ribas.

As pessoas mais velhas devem estar lembradas das visitas que recebiamos no início do século, em nossas casas, dos chamados Mata-Mosquitos, que vinham vestidos de brim amarelo em alusão à doença, e empunhando uma espécie de martelo que tinha num dos lados, uma ponta, que servia para furar qualquer recipiente que fosse encontrado contendo água estagnada, em geral com larvas de mosquitos, os quais poderiam na hipótese da ocorrência de doentes de febre amarela, virem a se contaminar e continuar a cadeia de transmissão da enfermidade.

Na época dessas epidemias eram desconhecidos os inseticidas hoje disponíveis para combate aos mosquitos, e assim, a profilaxia do mal era desenvolvido em duas frentes: na primeira, vacinação em massa das populações urbanas, principalmente das grandes cidades, e numa segunda frente ao combate ao mosquito transmissor, que restringia-se à eliminação dos seus possíveis focos de criação, como o são as águas paradas em geral, principalmente as pequenas coleções domésticas, como vasos de plantas ornamentais, latas vazias expostas ao tempo assim como garrafas, e pneus velhos e outros recipientes expostos às chuvas.

Já se sabia na época, que o mosquito vetor (Aedes aegypti), tem predileção para procriar em coleções estagnadas de águas limpas e frescas, gostando portanto de sombra e água fresca.

Foi graças aos trabalhos do médico Oswaldo Cruz que se conseguiu na época, mesmo com a precariedade dos serviços sanitários públicos, erradicar-se a doença de nosso território. Conseguiu Oswaldo Cruz que fosse votada e sancionada, Lei instituindo a Vacinação Obrigatória, o que era na época aceito com reservas pelo povo e políticos.

A Febre Amarela, chegou a atingir em fins do século passado, índices alarmantes nas grandes cidades brasileiras, só não se transformando numa catástrofe graças aos trabalhos de Oswaldo Cruz, Emílio Ribas e Lutz.

Assumindo a doença proporções em vários continentes, pela sua disseminação, quando apenas populações humanas forem as atingidas o termo utilizado é de uma pandemia; e quando apenas populações animais o termo correto é de uma panzootia.

O tratamento dos enfermos é ainda hoje eminentemente sintomático, exigindo repouso absoluto e alimentação exclusivamente líquida, além da hidratação do organismo enfermo a través da aplicação de soros via parenteral.

Já para a profilaxia, além do combate aos vetores a través de aplicação de inseticidas e erradicação dos possíveis seus criatórios, é indicada a vacinação das populações expostas ao mal, e para tal existem Vacinas de eficácia, as quais conferem boa imunidade.

É ainda de um pesquisador brasileiro Rocha Lima, a descrição da lesão patognomônica do mal, pois é exclusiva da Febre Amarela, em síntese: consistindo-se esta de " necrose hialina médio zonal, com preservação da arquitetura básica do fígado.



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