É a Febre Amarela, doença que
acomete os animais primatas em geral, portanto também o homem já que este é
classificado no mesmo grupo zoológico dos macacos. É causada por um vírus do
grupo dos Arbovirus, termo esse em Virologia originário da língua inglesa, que
engloba todas as viroses transmitidas por artrópodes, ou seja em Inglês:
arthropod born, significando ser transmitida através de artrópodes, como o são
os mosquitos em geral; Nessa doença em particular, funciona como vetor
(transmissor), o mosquito da espécie Aedes aegypti, que além da Febre Amarela
pode também ser vetor para a doença denominada DENGUE.
MICROFOTOGRAFIAde um corte histológico
, de setor de um lóbulo hepático humano com Febre Amarela , mostrando a chamada lesão hoje denominada de Rocha Lima , em homenagem a esse cientista Brasileiro que primeiro descreveu referida lesão patognomônica da Febre Amarela . |
Tal mosquito por ser sugador de sangue
(hematófago), picando um doente com febre amarela também se contamina, e vindo a
picar em seguida outra pessoa ou animal do grupo dos primatas (macacos em
geral), transmite a este último o vírus da doença, dando assim prosseguimento a
esse ciclo epidemiológico dessa grave virose. O mesmo ocorre também com a virose
conhecida pelo nome de Dengue, no caso transmitida pelo mesmo mosquito
vetor.
Essa sucessão de transmissões não sendo
interrompida por medidas sanitárias, pode ter continuidade de forma permanente,
constituindo então uma epidemia quando se tratar de populações humanas, ou uma
epizootia em se tratando de população animal; Quando tanto animais quanto homens
encontram-se contaminados pela doença, é denominada essa situação de uma
antropo-epizootia. Acontecendo da doença se tornar continuada por longo lapso de
tempo e numa terminada região, quando se tratar de população humana o termo
utilizado é de uma endemia; quando apenas animais permanentemente infectados,
uma enzootia, e quando tanto animais quanto pessoas estiverem simultaneamente
contaminados, o termo adequado é uma antropoenzootia. É portanto essa doença: a
Febre Amarela, uma zoonose, já que afeta além do homem também animais superiores
do grupo dos macacos (primatas), sendo inclusive inter-transmissível a través do
mosquito de macacos para o homem, ou vice versa.
Na Febre Amarela, sendo o homem (ou um
macaco) picado por um mosquito contaminado pelo vírus, tal vírus se multiplica
nos gânglios linfáticos satélites (os gânglios mais próximos da picada),
ocorrendo então em seguida, o primeiro surto febril, que dura de 2 a 3 dias, e
constitui o que é denominado de infeção propriamente dita, ou período de viremia
(quando o vírus está se multiplicando no sangue circulante do hospedeiro
infectado). Nesse período o diagnóstico é ainda difícil, devido os sintomas
serem os comuns a qualquer infeção, tais como febre, tonturas, fortes dores pelo
corpo, especialmente nas pernas e músculos lombares, vômitos alimentares
biliosos e epistaxis (hemorragia pelo nariz). Ocorre em seguida arrefecimento da
febre (queda transitória), vindo o doente a sentir grande sensação de alívio,
porém logo em seguida a febre volta novamente e os sintomas agora são de uma
intoxicação, caracterizando-se por icterícia (as mucosas aparentes como a
conjuntiva e mesmo a pele apresentam-se amarelo-esverdeadas, devido sua
impregnação pelo pigmento denominado bileverdina, que se originou da destruição
dos glóbulos vermelhos do sangue, denominando-se tal icterícia do tipo
hemolítica. Além desses sintomas, aparecem ainda: albuminúria (aumento da taxa
de albumina na urina), hemorragias cutâneas e vômitos negros
(hematemese).
A severidade dos sintomas acima descritos,
assim como das lesões que se verificam nos diversos órgãos, dependem do tipo de
vírus infectante, que não é de um único tipo, e estas lesões localizam-se
predominantemente no fígado, rins, coração, medula do osso externo e gânglios
linfáticos.
Foram já identificados dois tipos desse
vírus: um causando a chamada forma Silvestre, e outro a forma denominada Urbana;
Como tais nomes indicam, causam respectivamente a doença nas matas ou nas
cidades. A primeira delas, a Silvestre, acomete principalmente macacos, e
eventualmente o homem (garimpeiros, seringueiros, caçadores e pescadores
principalmente), sendo que o homem infectado nesse caso, regressando às suas
cidades de origem trazem a virose para o meio urbano, difundindo então a segunda
forma da doença, a Urbana, porém tendo como causa o tipo de vírus
Silvestre.
Na forma Silvestre foram já várias espécies
de mosquitos identificados como vetores do mal, pertencentes ao gênero Aedes e
também ao gênero Haemagogus, este último habitando como os saguis, as partes
mais altas das árvores.
A missão francesa, que em 1903 quando da
epidemia da doença no Rio de Janeiro, ali realizou trabalhos de pesquisa,
constituida essa missão pelos cientistas Marchoux, Salimbeni e imond,
estabeleceram que devem transcorrer pelo menos 12 dias para que o mosquito que
picou um enfermo se torne infectante. Os pesquisadores Brasileiros: Baurepaire
Rohan Aragão e Costa Lima, ambos do Instituto de Manguinhos do Rio de Janeiro,
em 1930, concluíram que mosquitos vetores das espécies assinaladas, porém do
sexo masculino e que normalmente não são sugadores de sangue, pois apenas as
fêmeas o são, em condições especiais, tal como quando alimentados com mel
misturado com sangue contaminado pelo vírus, não só se tornam infectantes como
também capazes de transmitir o vírus a través da cópula com as fêmeas, e estas
então tornarem-se também infectantes da doença. As fezes de mosquitos
contaminados também se apresentam infectantes já após 5-7 dias.
Em 1881, Carlos J. Finlay, em Cuba, foi quem
aventou a hipótese de ser a doença transmitida pelo mosquito, o que na época não
era admitido, sendo então ridicularizado porisso; Tal hipótese ficou esquecida
por 20 anos, e somente então, uma comissão do exército Norte Americano chefiada
pelo major Walter Reed, que encontrava-se novamente em Havana, em Cuba, que
sofria nova epidemia da doença, demonstrou de maneira irrefutável o acerto da
teoria Finley; Reed mandou construir uma pequena casa telada (a prova de
mosquitos), e dividiu-a em dois compartimentos; Num deles colocou voluntários
dormindo em camas conspurcadas por vômitos e fezes de doentes de Febre Amarela;
No outro compartimento da casa, instalou outro grupo de voluntários expostos
apenas às picadas de mosquitos que haviam dias antes picado doentes de Febre
Amarela . Resultado: Nenhum dos voluntários expostos apenas à excrementos de
doentes vieram a se contaminar e apresentar a doença; Já o grupo de voluntários
do segundo compartimento, expostos apenas às picadas de mosquitos contaminados,
um após outro adoeceram do mal.
Experimento similar foi efetuado entre nós,
em S. Paulo, no ano de 1903, por Adolfo Lutz e Emilio Ribas, na época no antigo
Hospital de Isolamento, hospital esse que hoje leva o nome deste último
pesquisador, e que tem ao seu lado o Instituto de Pesquisas que leva o nome do
primeiro pesquisador.
Em conseqüência desses experimentos, surgiu
na época dessas epidemias que assolou tanto S. Paulo quanto o Rio de Janeiro no
início do século, a chamada Campanha de Combate A Febre Amarela, chefiada na
época jovem médico sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz, que a comandava na
antiga capital federal, sendo em S. Paulo os trabalhos chefiados por Emílio
Ribas.
As pessoas mais velhas devem estar lembradas
das visitas que recebiamos no início do século, em nossas casas, dos chamados
Mata-Mosquitos, que vinham vestidos de brim amarelo em alusão à doença, e
empunhando uma espécie de martelo que tinha num dos lados, uma ponta, que servia
para furar qualquer recipiente que fosse encontrado contendo água estagnada, em
geral com larvas de mosquitos, os quais poderiam na hipótese da ocorrência de
doentes de febre amarela, virem a se contaminar e continuar a cadeia de
transmissão da enfermidade.
Na época dessas epidemias eram desconhecidos
os inseticidas hoje disponíveis para combate aos mosquitos, e assim, a
profilaxia do mal era desenvolvido em duas frentes: na primeira, vacinação em
massa das populações urbanas, principalmente das grandes cidades, e numa segunda
frente ao combate ao mosquito transmissor, que restringia-se à eliminação dos
seus possíveis focos de criação, como o são as águas paradas em geral,
principalmente as pequenas coleções domésticas, como vasos de plantas
ornamentais, latas vazias expostas ao tempo assim como garrafas, e pneus velhos
e outros recipientes expostos às chuvas.
Já se sabia na época, que o mosquito vetor
(Aedes aegypti), tem predileção para procriar em coleções estagnadas de águas
limpas e frescas, gostando portanto de sombra e água fresca.
Foi graças aos trabalhos do médico Oswaldo
Cruz que se conseguiu na época, mesmo com a precariedade dos serviços sanitários
públicos, erradicar-se a doença de nosso território. Conseguiu Oswaldo Cruz que
fosse votada e sancionada, Lei instituindo a Vacinação Obrigatória, o que era na
época aceito com reservas pelo povo e políticos.
A Febre Amarela, chegou a atingir em fins do
século passado, índices alarmantes nas grandes cidades brasileiras, só não se
transformando numa catástrofe graças aos trabalhos de Oswaldo Cruz, Emílio Ribas
e Lutz.
Assumindo a doença proporções em vários
continentes, pela sua disseminação, quando apenas populações humanas forem as
atingidas o termo utilizado é de uma pandemia; e quando apenas populações
animais o termo correto é de uma panzootia.
O tratamento dos enfermos é ainda hoje
eminentemente sintomático, exigindo repouso absoluto e alimentação
exclusivamente líquida, além da hidratação do organismo enfermo a través da
aplicação de soros via parenteral.
Já para a profilaxia, além do combate aos
vetores a través de aplicação de inseticidas e erradicação dos possíveis seus
criatórios, é indicada a vacinação das populações expostas ao mal, e para tal
existem Vacinas de eficácia, as quais conferem boa imunidade.
É ainda de um pesquisador brasileiro Rocha
Lima, a descrição da lesão patognomônica do mal, pois é exclusiva da Febre
Amarela, em síntese: consistindo-se esta de " necrose hialina médio zonal, com
preservação da arquitetura básica do fígado.
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